quinta-feira, 28 de novembro de 2013

ENCONTRO DA COLÔNIA JAGUARENSE

   Atendendo a pedidos de novo encontro que nos têm chegado de vários conterrâneos, estamos organizando uma nova confraternização, para encerramento do ano. Em 2013, infelizmente, foi possível a realização apenas de um almoço, que ocorreu em junho passado.

   Solicitamos a gentileza dos jaguarenses que receberem convite para que colaborem na sua divulgação, considerando-se que haverá pouco tempo para que nosso pequeno grupo cumpra essa tarefa.

   É importante fazer a confirmação para facilitar o trabalho do restaurante que nos receberá e para sermos melhor atendidos. Por favor, ligue para um dos seguintes telefones, informando o número de pessoas: 96838018 ou 8414.7340 (Ana Maria); 9968.7852 (Geraldo), 3233.4799 (José Alberto) ou 9984.7379 (Wenceslau).

   Passamos aos interessados, as informações necessárias:

   DATA:  08 de dezembro (domingo)
   HORÁRIO:  a partir das 11h
   LOCAL:  Restaurante Grelha do Porto
                   Av. José de Alencar, 1057 - Menino Deus
   PREÇO:  R$25,90 por pessoa (Não incluído qualquer tipo de bebida)
   OBS:  Há estacionamento para clientes.

sábado, 2 de novembro de 2013

DA GAVETA

Paralelas

 Agora ela está diante de mim, mas, mesmo assim, não estamos frente a frente. Eu não consigo vê-la como minha opositora, nem fisicamente. Parece-me quase indefesa, mas acho, também, que isso é uma falsa impressão. Não fosse pelo "dar de ombros" ante àquelas coisas que não entende, as que não quer entender ou mesmo as que pensa que não deve explicar, eu diria que sua resistência chegou ao fim ou está próxima disso. Vou falando tudo o que gostaria de ter tido nestes longos e intermináveis séculos de desencontros até entre aqueles que conseguimos comunicar-nos - com alguns pequenos intervalos, é claro - e que não são muitos. Sei que não houve uma separação total, diga-se de passagem (chavão, na falta de outra expressão no momento), pois, muitas vezes, cuidei-a, de longe, quando, com seu grupo, entrava ou saía de seu barzinho preferido ou em alguma casa noturna em busca de uma balada do momento (É assim que se diz?). Suponho que ela saiba disso. Se souber, faz que não sabe, que vem ser a mesma coisa, não?. Continuo falando sem intervalos, enquanto intercalo, num gesto mecânico, as bolachas do chope que tomamos ou requetequebro mais um palito usado para as batatinhas, que ainda resiste sobre a mesa. É o que posso fazer para não aumentar a voz, porque esta menina (que já não é mais menina) consegue, realmente, tirar-me a tranquilidade. Como das outras vezes - e quantas?  Nem mesmo nós sabemos - em que acabei calando para não correr o risco de expressar-me erradamente. Agora, enquanto escuto ela tentar justificar porque deixou de estudar ("A escola é uma instituição burguesa"), não posso deixar de observar que seus longos cabelos, muito negros, escorridos, caindo sobre a camisa colorida fina com uma frase que não consigo decifrar, são brilhantes e bonitos, apesar de mal cuidados. Pensando bem, há muitos desses pequenos detalhes que descubro em cada um de nossos rápidos encontros, que parece que ocorrem quando ela decide quando devam acontecer. Recordo que, na última vez, foi em um ônibus que ia para Ipanema. O acaso nos reuniu numa linda manhã de um sol de outono. Foi tão efêmero, mas eu consegui (ao menos me pareceu) reunir todos meus melhores argumentos pedindo que voltasse. Naquele momento, senti mais forte a rebeldia da sua juventude e as barreiras construídas pelos muitos anos que nos separam. Como contestação ela disse apenas "Não é hora". Nunca cheguei a compreender claramente o que os entendidos em psicologia familiar dizem sobre tais desencontros de faixas etárias diferentes. Talvez o esforço não tenha sido suficiente. Quanto tempo passou? Não sei! Neste momento, estamos juntos de novo. Entre nós há uma mesa de um bar qualquer, em uma noite qualquer, em uma dessas tantas metrópoles mantidas e governadas por velhos iguais a mim e contestadas por jovens iguais a ela. Só que, desta vez, vais ser diferente ou isso é apenas uma esperança minha. Aliás, já começou diferente porque agora não fui eu que a procurei. O telefone tocou no meio da noite, assim como telefone de Pronto Socorro ou de ponto de táxi. "Quero falar contigo". "Tudo bem. Passa no meu escritório amanhã. Eu te espero". "Amanhã, não. Quero falar contigo agora". "As duas da manhã?". "Não sei que horas são", retrucou como resposta. "Nos encontramos na porta do teu edifício". "?..." "Tchau". E desligou! Fiquei ainda por algum tempo com a mão segurando o telefone até compreender que deveria vestir alguma roupa qualquer, depressa, e descer para o encontro atendendo
a um chamado esperado há tanto tempo. Ainda aguardei alguns minutos embaixo da marquise, depois de cumprimentar o porteiro da noite, provavelmente meio desconfiado por ver-me descer àquela hora e permanecer em frente ao edifício. Ela surgiu de algum lugar, de repente. Atravessou a rua, correndo (Teria saído de um táxi?) e beijou-me o rosto com os lábios frios e sem pintura. Não nos falamos de imediato. Não segurou meu braço como pensei que iria fazer. Não perguntei nada. Chamei um táxi que, milagrosamente, passou por ali, após alguns minutos de espera e dei o endereço deste bar onde estamos. Ainda não perguntei o motivo especial de acordar-me no meio da noite e já estamos conversando há mais de uma hora. Falamos de tudo e de nada. Das nossas vidas de antes e de agora. De todas as questões que nos separam e nos aproximam; do mundo e das pessoas; da hipocrisia; do amor livre; das coisas a serviço dos homens e dos homens a serviço das coisas. Não temos assuntos tabus, mas há um tema que é consensualmente evitado: a mãe que ela quase não teve e saiu de nossa companhia por sua própria vontade. Nossa conversa, às vezes, é um tanto dolorida para mim, mas indiferente para ela. É preciso aproveitar para dizer (ou repetir, melhor dito) as verdades emanadas de minha experiência de quase setenta anos, mas reconheço que, em nosso caso, elas não têm tido muito valor. Nem sei mesmo se são ao menos consideradas dignas de serem ouvidas. Também não sei se esta é uma das tantas "últimas vezes" que já pensei que não nos encontraríamos mais. A noite vai ser pequena para tanta falta de assunto comum. Nossos rumos vão continuar iguais aos trilhos dos primeiros bondes da madrugada que já começam a circular: paralelos sem qualquer possibilidade de encontrarem-se, mas sempre próximos um do outro.


(Wenceslau Gonçalves, Porto Alegre/1977)