quinta-feira, 16 de abril de 2015

GALEANO - 1940-2015


 Não há como deixar de registrar o fato ocorrido neste abril de 2015. Galeano escrevia com a alma nas mãos e conseguia expressar o sentimento principalmente dos espoliados de Latino-America. A vasta obra que nos legou representa o grito dos oprimidos e das legiões de esquecidos sociais que transitam nos distintos territórios, em condições que os igualam na desigualdade.

 Ele conseguiu, como poucos, e de forma aprimorada pela beleza de seus textos, expressar  anseios e aspirações das comunidades das quais falava.
Traduzia, sobretudo, em linguagem simbólica, a dureza e o padecimento dos mais simples sem esquecer, no entanto, a fantasia que transforma as realidades dos heróis do quotidiano em quimeras dignas de figurarem em antologias.

 De tudo o que escreveu é difícil destacar o que pode ser considerado mais representativo de sua obra. Se pensarmos na mais conhecida certamente surgirá “As Veias Abertas da América Latina”, mas ele próprio considerou que ela, hoje, já não teria a mesma representatividade da época em que foi escrita. Outras tantas vieram e igualmente impressionaram pela atualidade com que se apresentaram. Pessoalmente, também não saberia dizer a que mais me impressionou daquilo que já li. Assim que soube de sua morte, ocorreu-me de ler algo como minha homenagem a sua sabedoria: fui reler uma de suas menores obras – em termos de páginas, obviamente: “Vagamundo”. Uma coletânea de pequenas histórias avulsas repletas de humanidade e encantamento com situações descritas com especial sensibilidade que somente Galeano podia dispor. Dou uma provinha para quem não conhece a obra: “...Agora penso na planta e não sei o que terá sido dela. Deve ter continuado a crescer, em algum lugar. Uma vez voltei para buscá-la, mas não a encontrei. Eu tinha entendido tudo o que ele me dissera. Mas não sei de depois ele foi um flamboyant, que tem essas flores que se incendeiam. Ou um cupey, que tem folhas para mandar recados, que a gente escreve com um pauzinho e não se apagam. Ou um guásimo, dessas que são boas para dar sombra e para enforcar”. (in O esperado – Vagamundo. Editora Paz e Terra, l980, 3ª. Ed).

 Galeano! Esteja onde estiver, deve estar encantando seus companheiros de eternidade com sua prosa maravilhosa e, talvez, esteja descobrindo novos caminhos e inventando novas formas de descrever as belezas que encontrou em seu novo refúgio. Como fez enquanto esteve entre nós. O seu legado vai continuar encantando muitas gerações aqui na terra.