terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A FLOR TEIMOSA


 Era no tempo em que a Terra apenas estava no início de sua existência.

 A mãe-flor produzia suas sementes em série e as jogava no solo para que a natureza as multiplicasse. O vento se encarregava de semeá-las no entorno. Quando vicejavam elas se tornavam também mães-flores e se disseminavam, aumentando o espaço colorido com suas vidas.

 No entanto, havia uma dessas sementes produzidas pela mãe-flor que não quis ser carregada pelo vento para a planície. Queria ir para a montanha de pedra inóspita, que não tinha nenhuma condição de alimentar uma flor, para que ela pudesse encantar também o alto da montanha com sua beleza. Era isso o que queria a flor-teimosa como passou a ser conhecida na região. A mãe-flor chamou a atenção de sua filha-semente para a inutilidade de sua ideia, mas a filha, teimosa, insistiu.

 A semente falou, então, ao vento de seu desejo, mas ele foi implacável: só a levaria até uma planície. Ela até poderia escolher onde gostaria de ficar. A flor-teimosa voltou a insistir. Queria assistir, de lá de cima o crescimento de suas irmãs e, também, de todas as outras obras da natureza. Ela não aceitou a oferta do vento.

 Enquanto isso, ela aumentava de tamanho e o tempo passava. Até que, numa tarde de primavera, quando todas suas irmãs já eram, agora, flores-mãe, ela recebeu a visita de um pássaro que ouvira falar de seu desejo e ofereceu-se para levá-la até a montanha. Ela foi, então, feliz no bico do pássaro mesmo correndo o risco de que ele a engolisse.

 O pássaro não sabia onde soltá-la. Já cansara de voar em busca de um pouco de terra em cima da montanha, onde pudesse plantar a semente para que ela se desenvolvesse. Lá no alto havia somente rocha pura. Até que ele, desistindo da busca, soltou a semente em um local inóspito.

 A semente estava feliz. Contemplou o sol mais de perto e acreditou que, mesmo na rocha pura, ela subsistiria. Passou-se algum tempo até que o próprio vento a reencontrou e passou a levar-lhe alguns grãos de poeira. O pássaro que a havia levado até ali, também lembrou-se de levar-lhe, em seu bico, alguma matéria orgânica que foi absorvida pela poeira levada pelo vento. Uma vez até levou-lhe água no bico.

 E, assim, o tempo passou.

 Um dia, a semente entendeu que já era hora de morrer para produzir uma flor-mãe que se reproduzisse e adornasse a montanha com suas cores. Mergulhou, então, naquele pouco de poeira e matéria orgânica e vicejou com toda a força que possui um ser rebelde.

 Logo nasceu uma linha flor que reproduziu muitas sementes que não pensaram em voltar para a planície e inundaram a montanha de cores maravilhosas.