Dois cães – uma
cadela e um cachorro – sem raça definida sempre conversavam através de uma
cerca em pátios de seus donos vizinhos: uma dona solteira e jovem com amigos
que a visitavam seguidamente e um dono, também solteiro, que era um tremendo
boa-vida e seguidamente promovia festas que varavam as madrugadas, perturbando
toda a vizinhança.
Eles (os cães) eram
conhecidos pelos seus respectivos donos, ela como Violeta e, ele, como
Diamante. O dono de Violeta, lhe dera esse nome porque havia namorado uma moça
que tinha esse nome mas o romance, apesar de ter durado muito tempo, havia
acabado com algum ressentimento de ambas partes. Ele era chamado por sua dona
de Diamante porque ela considerava que seu valor para ela se comparava a dessa
preciosa pedra.
Aos sábados pela
manhã, os dois caninos se encontravam na frente das residências enquanto seus
donos, livres de seus afazeres profissionais dormiam cada qual em sua cama,
claro. Eles mantinham um relacionamento de bons vizinhos e, também, às vezes,
conversavam sobre trivialidades em eventuais encontros ao saírem ou chegarem do
trabalho. Muitas vezes, referiam-se a essa amizade mantida pelos seus amigos
ditos irracionais.
Violeta e Diamante,
às vezes, encontravam-se no pátio de frente da casa onde ela morava – a do
vizinho porque cabia ao “cavalheiro” (no caso, o cachorro) pular o murinho que
separava os dois terrenos, pois não seria uma “dama” (no caso, a cadela) que
pularia uma cerca para visitar um macho, mesmo que fossem apenas amigos
sinceros. Ali ficavam por algum tempo a comentar a vida no bairro, trocando
idéias sobre a vida de cachorro burguês, que costumava ser bem melhor do que a
de alguns humanos por ali.