Nós sabemos que os animais
falam entre si; só não sabemos como, mas eles se entendem. Um dia, um casal de
sabiás, em final de uma tarde de outono, lá pelo mês de abril, talvez,
conversavam no galho de um frondoso abacateiro.
Dizia o macho para
sua amada, que cuidava de um filhote deles, já grande que ainda andava em sua
volta, aproveitando as facilidades culinárias que sua mãe lhe proporcionava:
“Amanhã, quero sair bem cedo daqui e vou levar nossa cria
comigo”.
“Como assim? Onde
pensas levá-lo?”, retrucou a sabiá, de imediato com jeito de preocupada.
Primeiro ele olhou em
volta meio sem graça e denunciando um pouco de tristeza nos seus lindos olhos
de pássaro, contemplou seu filhote e depois deteve-se a olhar seu par e voltou
a falar:
“Tenho um
ex-companheiro que, infelizmente, foi
engaiolado por um malfeitor desses que pensa que gosta de sabiás...”
Ela o encarou agora
apreensiva e interrompeu-o: “Não estou entendendo onde queres chegar...”
Ele ainda permaneceu
em silêncio por alguns segundos antes de continuar: “Há alguns dias estive
fazendo uma visita para ele. Ele me disse que sabe que está próximo da
morte...”
“?”
“Ele tem lembrado
muito de seu filhote, que quase nem chegou a conhecer porque foi preso logo que
ele chegou...Ele tem vontade de ver um filhote novamente antes de morrer, mesmo
que não seja o dele. Também porque agora já é um sabiá grande e ele nem sabe se
ele está livre ou não”.
Eles voltaram a
olhar-se e nem um dos dois conseguiu retornar ao diálogo interrompido. Por
certo pensavam em si próprios e em seu filhote.
Na manhã seguinte,
bem cedo, pai e filho sabiás saíram na direção contrária a do nascer do sol.
Publicado no Blogue em 17.02.18