Que o Brasil é um
país politicamente singular nenhum brasileiro tem dúvida. O que pode variar é a
maneira como cada um argumenta para concordar com a afirmativa. Há
justificativas para todos os gostos, desde a extrema esquerda até a extrema
direita. Neste último caso estamos procurando quem assuma essa condição, embora
se saiba que seus adeptos são numerosos. Ninguém quer ser direitista, no
Brasil.
Quis iniciar com a
afirmativa acima para justificar que também reconheço a existência de
peculiaridades “inexplicáveis” em todos os campos do relacionamento da
comunidade com as lideranças responsáveis pela condução do País e, mais
importante ainda, daqueles organismos que têm o compromisso de servir de elo de
ligação confiável entre governo e sociedade, mais comumente designada como
“mídia” (aportuguesando), seja ela falada, escrita ou televisionada e todas
demais que tenham a faculdade de lidar, diretamente ou indiretamente, com as
questões de opinião pública.
Grosso modo poderia
dizer-se que temos “três justiças” no Brasil, todas elas com suas causas e
conseqüências inerentes à responsabilidade com que cada uma é aplicada ou faz
produzir seus efeitos. A primeira, lógico, é a “justiça oficial” que, definida pela
nossa Constituição é exercida através de seus inúmeros organismos estatais, obedecendo
às regras estabelecidas em lei. De um
modo geral funciona razoavelmente bem não fora reconhecidamente lerda.
Como toda iniciativa humana, comete suas falhas. Sobre ela, assim se referiu
nosso mais ilustre sábio, Ruy Barbosa: “Justiça que tarda não é justiça”. Isso,
talvez, tivesse servido para a época em que foi feita a declaração. É uma
discussão para outro espaço.
A segunda justiça é a
da sociedade. Levados, às vezes, pelos mais estranhos motivos, os cidadãos,
geralmente reunidos em um grupo ocasional, tomam a deliberação de decretar que
determinada pessoa é culpada de um crime baseados apenas em pequenos indícios
mesmo sem qualquer comprovação concreta. É o tipo de justiça que nos transforma
em seres incapacitados de pensar racionalmente e pode ocasionar, inclusive, a
prática da pena capital – até de forma bárbara -, como ocorreu recentemente (No
Estado do Paraná, se não me falha a memória) e ocasionou a morte de uma pessoa
por espancamento sob suspeita de um crime que, depois, foi concluído que não
havia de fato cometido.
A terceira justiça é
a praticada pela mídia. Embora não venha implicar uma pena capital em sua ação,
é a mais devastadora delas pelo número de pessoas que pode atingir com uma
simples citação. Tão logo um crime é trazido ao conhecimento da opinião pública
pelos responsáveis pela investigação, mesmo que ainda não exista qualquer
decisão judicial os nossos comunicadores já escolhem a “quem” culpar. A partir
daí já podem começar a atribuir uma infinidade de irregularidades que passam a
manchetear em caixa alta em jornais ou até em especiais de TV. Se o denunciado
é uma personalidade no meio político as suas mazelas passam a dominar o
noticiário e os principais âncoras fazem citações quotidianas sob qualquer
pretexto, reforçando sua “condenação”. Alguém poderia perguntar: “Mas, e se o
denunciado for absolvido em todas as instâncias?”. A resposta vem da forma mais
sem compromisso possível: “Bem, ele não é culpado, mas poderia ser, não é? Desculpem a nossa falha...”
Só para não deixar a
afirmativa sem ao menos algum exemplo, basta rememorarmos casos que tiveram
grande repercussão entre os muitos que já ocorreram nos mais diversos meios de
comunicação. Quem não lembra dos episódios “Ministro Alceni Guerra”, e dos professores
da “Escola de Base de Brasília”?. Todos “condenados” pela mídia e, depois,
inocentados pela justiça oficial. E há, também, um que atingiu diretamente os
gaúchos. Quem não sabe que um de nossos deputados federais foi lançado à execração
pública e acabou perdendo seu mandato? Uma revista semanal de circulação nacional
“confundiu” cem dólares com cem mil dólares e não quis voltar atrás porque as suas
revista já haviam sido impressas?
Recentemente, a mesma revista teve um de seus diretores envolvido com o doleiro
do caso Senador Demóstenes/Carlos Cachoeira, só que a única menção que ela fez
sobre o fato foi a de que os duzentos contatos telefônicos feitos, pelo
jornalista, com o doleiro eram por motivos “profissionais”.
Na verdade, o
objetivo principal deste artigo é lançar um alerta para o que está ocorrendo em
relação à divulgação de diversos problemas que o País vem enfrentando, sejam
eles econômicos ou políticos. A grande mídia oligopólica, a serviço da direita
e da elite brasileira, está cerrando fileiras na busca de um impedimento da
Presidenta e, para tanto, qualquer meio é válido para atingir seu objetivo. É
necessário que cada brasileiro, antes de tomar qualquer posição, faça uma
análise profunda da situação não se deixando levar pela massificação da idéia
de que tudo no Brasil se tornou um caos. Não sou defensor incondicional de tudo
o que o Governo vem fazendo. Acredito que há muitas falhas, mas não vou
incorrer na leviandade de querer contribuir para a instalação de um quadro
reacionário, a serviço de interesses que não são os da população menos favorecida, mas, apenas,
concorrerá para a manutenção de benesses seculares que uma parcela reduzida de
privilegiados continua a desfrutar.
(Publicado no Jornal Fronteira Meridional em 11/03/15)