(Hoje, quero pedir
licença aos meus leitores, mesmo que poucos, para ter meus minutos de pieguice
e sentimentalismo, ocupando o menor espaço de tempo e papel).
Dizer que o tempo
passou depressa é uma expressão que já foi cantada em prosa e verso vezes sem
conta e, portanto, quase não quer dizer
nada de significativo. Sempre achei que o tempo foi uma invenção de Deus para
chatear os mortais já que ele, por ser eterno, não precisa preocupar-se com esse problema. Sobrou para nós, então,
administrar essa questão com todas as implicações que contém. Já tive
preocupações com o inevitável, mas hoje consigo lidar melhor com essa incógnita
do “depois”. Se ele existir, espero que tenha a minha disposição muitos livros (digitais
ou de papel?) – de todos os conteúdos – porque a eternidade sem leitura deve
ser um saco. De uma coisa tenho certeza: ainda há muita coisa boa com que poderia me deleitar. Ainda
nem consegui ler todos os clássicos que gostaria.
O que deve/pode fazer
alguém que chegou a esta idade? Talvez já não sejam muitas as opções. Vamos lá.
Acho que uma delas e perguntar-se sobre o que fez com as chances e os
privilégios que desfrutou. No meu caso, não quero lembrar nem para mim mesmo,
agora que já entardece a vida, os momentos que deveriam ser, mas que deixei
passar; os que posterguei (e acabei perdendo) e os que aproveitei e que frutificaram
e trouxeram-me satisfação.
Mas relembrar também
é parte obrigatória do cenário do tempo. Para isso serve aquele escaninho
importante do cérebro humano que tem a capacidade de recriar, trazendo o
passado de volta sem compromisso com a exatidão dos fatos. É bom sentir, de
novo, o sabor das primeiras vezes, mesmo que tenham um pouco de gosto de sal. Os
primeiros sonhos; as primeiras surpresas; as primeiras decepções e as primeiras
fantasias vão e voltam no redemoinho das emoções passageiras que nem sempre se
consegue evitar. Nesse rol é inevitável incluir as cenas da infância no Cerro, com
as pescarias em família ou o jogo de bola de gude no caminho da enfermaria;
andando no trolei da pedreira (escondido do ronda, lógico), tomando banho nas “canteras”
ou as peladas no campo da hidráulica, disputando rapadura. Mais tarde, o início
do desconhecido: a primeira aula no Joaquim Caetano com a professora Nida, e a
primeira colega que fazia a diferença. As matinês no Esperança, trocando gibis
também foram uma marca importante no relacionamento com novos amigos e outras
descobertas que depois passaram a fazer parte da minha cultura de guri,
adolescente e adulto. O primeiro emprego no Laboratório do Prof. Martins e os
outros que vieram depois, desde ser “guarda-livros” no Alvim Borges até o escritório
do Roberto Ferreira. Daqui, para Porto Alegre quando se inicia uma nova fase.
Completa mudança na vida e coragem para enfrentar a cidade grande com seus
problemas e mistérios. Deste período, posso dizer que sempre – como até hoje - carreguei
Jaguarão comigo. Guardei sempre com muito carinho todas as boas lembranças da
minha “cidadezinha” que foram ficando cada vez mais distantes a medida em que o
tempo passava. Certamente os encontros da Colônia Jaguarense contribuiram bastante
para manter aquecido esse clima interiorano bem próprio de nossos conterrâneos.
Penso que nada melhor
para encerrar do que uma volta bem ao início, quando tudo começou, para
rememorar o som da voz materna da mãe castelhana cantando “a-rô-rô mi niño;
a-rô-rô mi sol; a-rô-rô pedazo de mi corazon...”
(Acredito que isto é
o máximo que este coração setentão e os leitores conseguem agüentar!).
Vais deixar para ler os clássicos na eternidade? Ai sim vai ser um saco com todo tempo disponível para viajar pelo Universo a fora. Desacelera esse motor e vai curtindo o que ainda podes curtir...
ResponderExcluirOu se não vira homem-bomba islâmico para desfrutar as delícias do paraíso de Maomé, com certeza bem mais interessantes do que a leitura dos clássicos!
Companheiro,
ExcluirAcho difícil, a estas alturas, de cambiar as minhas preferências, mas não é impossível. O tema vai para posterior estudo. O que acho difícil é aceitar a tua sugestão porque acho que não vou conseguir dar conta (nem com ajuda divina) das "não sei quantas mil" virgens que eles ganham quando vão para lá depois de explodirem. Abraços. Wenceslau.
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