Não há como deixar de
registrar o fato ocorrido neste abril de 2015. Galeano escrevia com a alma nas
mãos e conseguia expressar o sentimento principalmente dos espoliados de
Latino-America. A vasta obra que nos legou representa o grito dos oprimidos e
das legiões de esquecidos sociais que transitam nos distintos territórios, em
condições que os igualam na desigualdade.
Ele conseguiu, como
poucos, e de forma aprimorada pela beleza de seus textos, expressar anseios e aspirações das comunidades das quais
falava.
Traduzia, sobretudo, em linguagem simbólica, a dureza e o
padecimento dos mais simples sem esquecer, no entanto, a fantasia que
transforma as realidades dos heróis do quotidiano em quimeras dignas de
figurarem em antologias.
De tudo o que
escreveu é difícil destacar o que pode ser considerado mais representativo de
sua obra. Se pensarmos na mais conhecida certamente surgirá “As Veias Abertas
da América Latina”, mas ele próprio considerou que ela, hoje, já não teria a
mesma representatividade da época em que foi escrita. Outras tantas vieram e
igualmente impressionaram pela atualidade com que se apresentaram. Pessoalmente,
também não saberia dizer a que mais me impressionou daquilo que já li. Assim
que soube de sua morte, ocorreu-me de ler algo como minha homenagem a sua
sabedoria: fui reler uma de suas menores obras – em termos de páginas,
obviamente: “Vagamundo”. Uma coletânea de pequenas histórias avulsas repletas
de humanidade e encantamento com situações descritas com especial sensibilidade
que somente Galeano podia dispor. Dou uma provinha para quem não conhece a
obra: “...Agora penso na planta e não sei o que terá sido dela. Deve ter
continuado a crescer, em algum lugar. Uma vez voltei para buscá-la, mas não a
encontrei. Eu tinha entendido tudo o que ele me dissera. Mas não sei de depois
ele foi um flamboyant, que tem essas flores que se incendeiam. Ou um cupey, que
tem folhas para mandar recados, que a gente escreve com um pauzinho e não se
apagam. Ou um guásimo, dessas que são boas para dar sombra e para enforcar”.
(in O esperado – Vagamundo. Editora Paz e Terra, l980, 3ª. Ed).
Galeano! Esteja onde
estiver, deve estar encantando seus companheiros de eternidade com sua prosa
maravilhosa e, talvez, esteja descobrindo novos caminhos e inventando novas
formas de descrever as belezas que encontrou em seu novo refúgio. Como fez
enquanto esteve entre nós. O seu legado vai continuar encantando muitas
gerações aqui na terra.
As coisas não acontecem por acaso,mas no momento certo de cada um.Galeano um grande escritor nos deixou e ficaremos um pouco mais órfãos,mas sempre olharemos para traz e sentiremos uma saudade de tamanho imensurável.
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