“Boa tarde, senhora”.
“...tarde, doutor. O
que vai hoje?”
“Hoje, rosas
vermelhas. As mais lindas que a senhora tiver”.
Era o ritual de todas
as sextas-feiras, em final de tarde. Já haviam sido muitas delas. Com bom
tempo; ou sem bom tempo; com sol radioso ou com chuva persistente. Sempre o
mesmo local, a mesma pessoa, a mesma florista, a mesma hora. As flores é que
poderiam variar conforme as que houvessem sido escolhidas na semana anterior.
Não havia repetição em duas semanas seguidas.
A variedade das cores
e tons e o viço dos vegetais daquele pequeno recanto próximo a uma avenida
movimentada, transformavam o asfalto em um belo jardim que atraia olhares dos
passantes de final do dia. A semana estava terminava. Há os apressados que não
se detém e os apressados que esquecem, por momentos, seu estresse para admirar
o que enche os olhos de beleza e um pouco de paz que só o que é natural
consegue.
Ele mantinha o olhar
fixo no que ela fazia. Nos menores detalhes: nos costumeiros e nos novos, se
houvessem. As vezes, punha as mãos nos bolsos como se sentisse inseguro.
Nesta sexta, volta a
repetir-se o mesmo que em todas elas:
“Boa tarde, senhora”.
“...tarde, doutor. O
que vai, hoje?”
“Deixo para a senhora
escolher. Hoje são do seu gosto”.
Pagou, guardando a
carteira no bolso do casaco e falou:
Quando ela vai
alcançar-lhe as flores, ele fala: “Esta é para entregar”
“E o endereço qual
é”, perguntou a florista.
Ele responde: “Na
verdade não sei. São para você”. E afastou-se sem dizer mais nada, pensado como
seria na sexta-feira seguinte.
Inteiramente à mercê da cúmplice,ele já se habituara a mandar seu recado.
ResponderExcluirNem se preocupava com a escolha
– crisântemos, otimismo
– rosas vermelhas, amor e desejo
– violetas, eu-te-farei-amar...
Discreta, a florista parecia premeditar algum desfecho para aquele caso.