Corria o ano de 2300
DC. As criações tecnocientíficas super-evoluídas já eram consideradas o
suprassumo da tecnologia desenvolvida pelos humanos.
Parecia que nada mais havia para ser criado em
qualquer ramo da ciência.
Com a abundância, a
humanidade rolava no tédio, fruto do “nãotemmaisnadadenovidade”. Tudo que podia
ser inventado já fora. Todas as comodidades possíveis já estavam em
funcionamento. Até o controle remoto agora era acionado através do pensamento.
As pessoas voltaram, então – os saudosistas continuavam incorrigíveis - a
querer ler uns livros, mas as bibliotecas haviam sido extintas. Surgiu, porém,
um maluco teve a feliz ideia de arrecadar – em alguns lugares esquecidos e
cheios de mofo – antigos objetos que haviam sido chamados de livro no passado
longínquo. Vasculhou sótãos e porões do mundo inteiro já abandonados há muito
tempo até encontrar alguns velhos e semidestruidos livros que haviam,
milagrosamente, sobrevivido. Formou, então, uma pequeníssima biblioteca com
pouco mais de uma centena de exemplares. Leu todos e ficou maravilhado porque
redescobriu o prazer de ler uma folha impressa, sem luz para controlar e sem
botões para apertar. Enfim, sem precisar ligar e desligar qualquer chave. Sem
precisar utilizar qualquer tipo de energia a não ser a própria vontade e a de
ter que abrir e fechar o livro quando tivesse que continuar ou interromper a
leitura.
Esse homem, em um dia
de boas idéias, lembrou-se de compartilhar seu prazer com os demais
sobreviventes do mundo. Não teve ideia de cobrar por isso porque naquelas
alturas o dinheiro não circulava mais. As pessoas pegavam o que precisavam ou
imaginavam precisar sem precisar comprá-las.
E assim foi. Logo a
fila dos interessados em ler livros era enorme. Quando alguém chegava, ele
tinha apenas que anotar o nome e dizer a data em que o interessado poderia vir
para ler um livro cujo título escolhia entre os poucos que existiam:
“A sua leitura está
marcada para o dia...Deixe ver...(Procurou em um grande livro de anotações,
isto é, em seu computador manual. Aqui está. O livro que o senhor quer ler é
muito requisitado. Fala de coisas que não existem mais: árvores, animais
irracionais. É! Você terá que voltar no dia 16 de março de 2303, das 10h às
12h. Estamos com uma média de espera de três anos”.
E falou para o seguinte da fila: “O próximo,
por favor!”.
Adorei!!!
ResponderExcluirAcredito que os livros e o rádio não vão terminar nunca!!
Beijocas saudosas,
Marcele