Fora o clássico
modelo de náufrago. O barco em que navegava naufragou e ele foi o único a
escapar com vida. Os demais companheiros haviam perecido. Como andavam velejando em lugar próximo a uma ilha
deserta ele conseguiu chegar lá, mas com
bastante esforço.
Ali ficou vivendo
durante algum tempo, alimentando-se de frutas que conseguia apanhar próximo da
praia. O clima era ameno e ele conseguia dormir coberto de algum tipo de
vegetação que se encontrava no ambiente. Embora bastante magro pela frugalidade
da alimentação ele conseguia sobreviver razoavelmente.
Não se animava a
explorar o interior da ilha e havia dias em que sentia que estava sendo
observado, mas nunca conseguiu tirar sua dúvida.
Uma manhã, quando
acordou com o sol já alto encontrou uma enorme cesta rústica repleta de
verdadeiras iguarias para as condições da ilha. Eram vários espécies de frutas
que não havia ainda comido e, até, alguns pedaços de peixe cozido em um
saboroso tipo de molho. Comeu até fartar-se, embora estivesse desconfiado da
generosidade inusitada. E assim passou acontecer durante muito tempo.
Muitas vezes esteve a
pensar que era, talvez, considerado um deus pelos nativos do lugar, mas não
entendia porque não vinham prostrar-se ante seu novo senhor. Pensar nisso o
deixava satisfeito, contando que um dia poderia determinar a que fizessem para
ele uma grande jangada e ele pudesse sair dali.
Um dia, ele dispôs-se
a descobrir quem trazia aqueles presentes todos os dias. Permaneceu acordado
toda a noite, fazendo que dormia até que conseguiu ver que um nativo – isso ele
deduziu – trazia a bandeja com os alimentos. Era uma pessoa alta, bem forte com
cabelos compridos, imberbe com a pele escurecida pelo sol tropical e com um
semblante que resplandecia satisfação. Depois que os dois superaram a surpresa,
ele tentou fazer-se entender por sinais porque, embora o nativo emitisse alguns
sons, ele não teve a menor possibilidade de entender o que queriam dizer.
Passou algum tempo –
talvez semanas - e, então, os dois começaram a entender-se melhor. Pouco a
pouco um conseguia transmitir alguma coisa ao outro.
Um dia, ele julgou
que já tinha conhecimento suficiente para fazer a pergunta que trazia trancada
na garganta e ele a fez ao amigo com quem, agora, já conversava razoavelmente
todos os dias na língua local.
“Por que eles me
tratam assim, me trazendo tanta coisa boa e nunca se aproximaram de mim para um
contato?”
A resposta veio
depois de uma pequena hesitação naquela estranha linguagem, mas bastante clara
para que o náufrago entendesse: “Eles estão engordando você!”