terça-feira, 5 de abril de 2016

O IMPEDIMENTO: A IDEOLOGIA DO DEBATE


 O cenário nacional encontra-se agitado e confuso. Isso é inegável. Nem tanto quanto proclama a mídia alarmista cujo comportamento tragicômico é nosso conhecido, e nem tão pouco que não deixe de trazer-nos alguma preocupação. Os posicionamentos têm sido demonstrados, de uma maneira geral, verbalmente agressivos, principalmente através das chamadas redes sociais. Talvez esses longos anos de silêncio forçado não tenham contribuído para que tenhamos um hábito mais saudável de convivermos com pensamentos diversificados. Quer sejamos “petralhas”; quer sejamos “tucanalhas” temos que acabar entendendo que as ideologias que introjetamos e que servem de balizamento para nosso comportamento social, são sempre discutíveis. Se o homem é um animal imperfeito é lógico que produza coisas imperfeitas. Os óculos ideológicos que usamos são os que nos levam a interpretar os fatos de acordo com aquilo que aceitamos como melhor. Eu próprio, no momento em que escrevo este comentário, estou encarando a realidade brasileira atual conforme a “ideologia” que orienta meu posicionamento. É preciso que cada um assuma suas próprias posições, aceite as decisões da maioria, mas continue lutando por aquilo que defende sem querer implantar suas ideias pela força ou através de maquinações ilegítimas ou ilegais.

 Nesta linha, sob este ponto de vista, gostaria de expor meu pensamento sobre o que tem ocorrido ultimamente, mais especificamente sobre o que vem acontecendo no relacionamento entre os três poderes constituídos do País – Executivo, Legislativo e Judiciário, que são os pilares fundamentais que sustentam um regime republicano representativo como o que é adotado pelo Brasil. Há uma clara disputa entre dois blocos representantes da sociedade brasileira atual. A base de toda a discussão representada pelas atuais querelas é, certamente um embate ideológico. Ele é protagonizado por uma esquerda parcialmente inoperante que se instalou no poder, a partir do primeiro governo Lula, e uma direita revigorada pela crise econômica-política-financeira que se instalou no País por diversos motivos, entre os quais a carência de reformas de base necessárias para o desenvolvimento equânime que abranja essa enorme parcela da população brasileira que permanece à margem dos benefícios que podem ser usufruídos em um país medianamente desenvolvido.

 Tenho para mim, que o mais preocupante nesse desencontro são algumas decisões que tem sido tomadas pelo Poder Judiciário acarretando, no mínimo, situações de dúvida quanto ao papel de Poder Moderador que lhe cabe constitucionalmente. A legitimidade legal imposta pela Carta precisa, também, ser respaldada por uma confiança da coletividade sem que haja comportamentos dúbios. Essa confiança não pode ser titubeante. Não pode haver nem dúvidas, nem mesmo pequenas falhas porque elas podem conduzir à generalização e ao fracasso do processo no seu total. Isto seria altamente desastroso para a comunidade que aguarda, ansiosa, por uma solução que lhe devolva a tranqüilidade política e para que o País possa retornar ao caminho do pleno desenvolvimento que anunciou trilhar em passado recente. O Poder Judiciário representa, hoje, uma esperança para a definição de uma solução que nos devolva a tranqüilidade e, por isso, ele não pode agir nem com ingenuidade nem com parcialidade. Ele precisa ser imune às pressões de todos os segmentos e tomar a decisão apropriada para o momento, mas, para que isso seja factível, é necessário agir com rigor inclusive com seus próprios componentes. A Suprema Corte não deve ser influenciada por qualquer ingerência político-partidária que a leve a desviar-se do caminho principal. A seus próprios membros cabe responsabilizar-se por uma mútua fiscalização interna, objetivando a decisão mais acertada de acordo com a legislação vigente e com vistas ao bem-comum tão almejado.

 Não é hora para estrelismos provenientes de vaidades pessoais. O momento está a exigir uma resposta sábia daquelas pessoas que têm sob sua responsabilidade a condução de uma solução que o País aguarda. Isso dentro de normas já definidas para uma convivência em harmonia. Deve haver um esforço verdadeiro no sentido de aceitarem o que for melhor para o maior número possível se é que não pode ser para todos. O primeiro passo é reconhecer que os pólos em conflito precisam  ganhar e perder um pouco para que se possa encontrar pontos comuns que levem a um entendimento final. Sem essa disponibilidade não há como dar-se qualquer negociação.

 Aos cidadãos bem-intencionados resta aguardar que essa resposta venha no menor tempo possível “para a felicidade geral da Nação”.




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